quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Hinduísmo



“Ó Pusan, Sustentador de Tudo,
Abre a boca da Verdade,
Agora oculta por um véu dourado,
Para que nós, devotos da Verdade,
Possamos ver.”
Upanixades



O Hinduísmo ou Brahmanismo é uma Religião muito antiga descendente dos Rishis. Teve origem na parte mais a norte da Índia e é neste país, que actualmente tem mais adeptos. É constituída por seis grandes Escola de Filosofia. Todas Elas procuram a libertação dos limites de uma existência penosa, das misérias da roda dos nascimentos e das mortes. Todas admitem o conhecimento divino, o Brahma-vidya.

O Brahman o Ser Absoluto é representado pela tríada de Deuses:
- Brahma, o Criador,
- Vishnu, o conservador e
- Shiva, o destruidor e regenerador de nova vida.

Brahma é pouco venerado, devido à grande incompreensão envolta Dele. Vishnu é mais reverenciado nas suas principais encarnações, Avataras, como Rama ou Krishna. Shiva é mais adorado pelas suas personificações femininas, Parvati, Kali e Durga. Abaixo destas divindades maiores, há uma infinidade de Deuses menores e objectos sagrados, idolatrados em numerosos templos, pelo povo menos culto, que Lhes imploram coisas e oferecem flores, frutos, folhas de certas árvores, entre outras coisas e lamentavelmente, digo eu, sacrifícios sangrentos de animas.

Da sua doutrina, destacam-se as seguintes particularidades:

1. O Hinduísmo é panteísta. Ele venera a Natureza, pois tudo o que existe, desde deuses, homens, animais, plantas, montanhas, bosques, rochas, energias, rios, nuvens, tempestades, etc. pertencem às inumeráveis partes do Absoluto. “O Senhor está na rocha ou na árvore e é ele que é adorado e não a simples forma exterior.”
2. O mundo como o conhecemos e sentimos, não passa de uma ilusão, Maya. Tudo irá desaparecer. Só Brahma é eterno.
3. A Alma individual de cada homem, reencarna imensas vezes até esgotar o seu Karma e é por fim absorvida no Divino, no Brahma. O Karma devolve a todos os homens os resultados daquilo que semearam. Se as sementes lançadas nesta vida são boas, essa “sementeira” irá repercutir-se nas vidas futuras. Se juntar a esta purificação Kármica, uma expansão de consciência, ele irá evoluir ao longo dos três mundos ou estágios, Jagrat, Svapna e Sushupti, até se libertar da roda dos nascimentos forçados. Annie Besant diz-nos: “Aí o homem descobrirá que a Natureza do Universo e a sua Própria Natureza são uma só… Tornar-se-á num Brahman, que potencialmente sempre o foi, mas só agora, está activa a sua realização”.


No Hinduísmo existem três aspectos fundamentais:

1. As Verdades Espirituais, implícitas nos Vedas e nos Upanishads, que retratam o conhecimento da Natureza e os métodos para a sua aquisição. Desvenda o todo, a manifestação, a origem, a expressão e a unidade do Universo realizada por Brahman. Ele manifesta-se na tríada de atributos:
- Sat, a Sabedoria,
- Cid, o Amor e
- Ananda, a Vontade.
Estes atributos também expressos na Trindade Trimurti, Brahma, Vishnu e Shiva.

Nesta cosmogénese, as Escolas Samkhya de Kapila têm uma visão, mais particular. Dividem o universo numa dualidade:
- Purusha, o Espírito e
- Prakriti, a matéria.

Por sua vez, Prakriti é trina, formada pelas qualidades da matéria, chamadas Gunas:
- Sattva, Harmonia,
- Rajás, Emoção e
- Tamas, Inércia.
Toda a matéria é constituída por estas três qualidades. Ela está equilibrada, onde todas as qualidades se encontram na mesma medida, ou desequilibrada, quando uma ou outra se apresenta em maior ou menor proporção.

2. O Culto Exotérico, onde os Purunas (as lendas e histórias antigas), os Rituais, as cerimónias, observâncias, imagens e os Mantras são a sua expressão mais popular. São ensinamentos virados para o público em geral, centrados na conduta social e familiar, numa perspectiva de gradual preparação para a compreensão das Verdades esotéricas e espirituais. Tudo foi adaptado para estimular a devoção, a adoração e fomentar o Amor. Neste culto, existe um trabalho, uma espécie de simbiose, entre o homem e os outros Reinos da Natureza: o Mineral, o Vegetal, o Animal, o Devático (mundo Astral) e o Dévico (mundo Mental). Sri Krishna dizia-nos a esse respeito: “Com isto alimentais os deuses e os deuses poderão alimentar-vos”.

As Castas.
O Hinduísmo divide a evolução do Homem em quatro estágios, por onde cada Alma terá de passar afim de evoluir. Estes estágios são representados pelas quatro castas:
- No estágio mais baixo, o Sudra, não há muitas obrigações. Só o dever da obediência e serviço;
- O estágio a seguir, o Vaisya, a Alma tem de aprender a ser altruísta na posse. É composta por camponeses, artesãos e burgueses, alguns deles com propriedades;
- O terceiro estágio, o Ksatriya, o homem suporta a vida com sacrifício. Era antigamente constituída, por reis, senhores feudais e guerreiros;
- Finalmente a casta dos Brâmanes, dos sacerdotes e magos, aprendem a abstrair-se de toda a atracção fútil, efémera e ilusória e preparam-se para viverem no seu último veículo encarnado na terra;
- Para além destas quatro castas, existem os homens que já passaram e aprenderam esses estágios. São os Samnyasin. Não têm casta, nem rituais ou cerimónias. Vivem completamente separados da personalidade.

3. A Ciência do Yoga ou Sankhya, a união com a Natureza Universal, através de um constante estudo sobre o mundo invisível e uma expansão da consciência, a dimensões mais subtis. A evolução humana é normalmente feita, vida após vida, de uma forma muito lenta. No entanto, qualquer homem pode evoluir mais rapidamente, se para isso fizer esforços, na meditação e no estudo da Ciência do Yoga.
Existem três caminhos denominados de Margas. Cada caminho tem o seu próprio Yoga. São eles:
a) O Karma-Marga que culmina na Karma-Yoga, o cumprimento recto da Acção. O homem aprende através da meditação e da vivência diária, no meio do turbilhão da vida comum dos homens, a rectidão e o equilíbrio. Aprende a executar a acção sem qualquer desejo na obtenção de proveito.
b) O Jnana-Marga que acaba no Jnana-Yoga, o conhecimento espiritual, é a união pela Sabedoria. O Homem deve desenvolver o Viveka, o discernimento entre o real e o ilusório e Shatsampatti, as seis qualificações mentais:
- Shama, controlo da mente;
- Dama, controlo do corpo;
- Uparati, tolerância mental extensa;
- Titiksha, persistência;
- Shraddha, fé;
- Samadhana, equilíbrio.
No fim deverá ter Mumuksha, o querer se libertar do ilusório e transitório e tornar-se num Adhikarin, o homem preparado para receber a iniciação do Yoga.
c) O Bhakti-Marga que termina no Bhakti-Yoga, a União pela Devoção. Uma adoração devota, de amor profundo, de reverência, faz com que a alma vá gradualmente adquirindo as qualidades de quem adora, culminado com a igualdade daquilo que adora.
Estes três caminhos, aqui citados, acabam por se misturar. Nos estágios mais elevados da evolução são mesmo inseparáveis. Aqui, quando se tornar necessário, o Guru, o Mestre, aparece e recebe o Chela, o seu discípulo, para conduzir a alma através dos últimos estágios. Assim o Chela transforma-se num Jivanmukta, ou num Videhamukta, uma alma liberta, a viver ainda num corpo, tornando-se num canal do Amor divino que derrama pela Humanidade.


Conclusão

No Hinduísmo, as diversas opiniões sobre o Absoluto são válidas e valiosas, porque são expressões, mesmo que pequenas, da Verdade. A totalidade das opiniões oferece uma perspectiva mais próxima da Realidade última. Por isso existe uma enorme tolerância e fraternidade entre as diversas Escolas Hindus.
O Hinduísmo foi criado para o homem se desenvolver internamente, aprender as Verdades Espirituais, através da contemplação de imagens externas.
O problema das castas, que ainda hoje existe na Índia, deve-se a uma mal compreensão da filosofia. Não é a encarnação no corpo ou na família A ou B que se define a casta de cada um, mas sim, a sua evolução interior, a capacidade de ser uma expressão do Divino que habita cada Homem.

As festas religiosas principais são as das lâmpadas, Dipavali, e o aniversário de Krishna.
Os Hindus tem o ritual de cremar os mortos e lançarem as cinzas ao Ganges ou outro rio sagrado.

Para terminar esta breve apresentação sobre o Hinduísmo, gostaria de partilhar uma passagem que retrata a cosmogénese Hindu:
No Bagavad-Gita Cap. XI, quando Arjuna em forma de prece pede a Krishna para ver Deus. Ele responde: “ Mas não é com os teus olhos materiais que Me consegues ver. Para isso abro-te a visão espiritual. Olha, pois, e vê agora a minha gloriosa Natureza Mística!”…
“Neste aspecto, viu-se como Muitos num só: com inúmeras faces, olhos e bocas, inúmeras aparências, consciências e formas, com todo o esplendor de adornos celestes, com todas as forças do poder divino, divinamente vestido e coroado, exalando agradabilíssimos perfumes.”
“Luminoso, radiante, maravilhoso, cheio de graça e onividente era o seu Semblante.”
“Se mil sóis, ao mesmo tempo, brilhassem no firmamento, a luz deles haveria de empalidecer na presença da Glória que aquele Semblante irradiava em todas as direcções.”
“Arjuna viu, então, todo o Universo, variadíssimo em suas múltiplas aparências, formando uma Unidade no Corpo do Ser Absoluto, e manifestando-se como muitíssimas partes nos corpos dos deuses,”
“Arrebatado e pasmado, e com os cabelos arrepiados, mirou e admirou essa Visão Maravilhosa…”


Jorge Moreira

13 comentários:

Anónimo disse...

Belo:))


B.f.semana.

P.P.

***maat

aya disse...

Excelente texto, Jorge!
Gostei imenso!!!

Bjs

oceanus disse...

“ Mas não é com os teus olhos materiais que Me consegues ver. Para isso abro-te a visão espiritual. Olha, pois, e vê agora a minha gloriosa Natureza Mística!”…



uma boa semana para ti

um abraço do fundo do Oceanus

Isabel José António disse...

Caro Amigo Jorge,

Para o espaço de um blogue, este texto está soberbo. E belo.

Um grande abraço

José António

Gi disse...

É matéria que me fascina, já a abordei por várias vezes mas só ao de leve no antigo "pequenos nadas" , isto sim é texto que se apresenta. Está cinco estrelas!

Já cá estive mas sem conseguir publicar o comentário, estive com problemas graves no computador (intrusos) que parecem finalmente estar resolvidos.

Um beijinho Jorge, sinto-me sempre levezinha quando saio daqui

Rosa Brava disse...

Um texto intenso, que gostei de ler, de um assunto, que realmente não domino.

Já tinha saudades de aqui vir...

Um abraço ;)

teresa g. disse...

O hinduísmo é fascinante, apesar de complexo! Foi muito interessante ler este teu texto. Como a maioria das pessoas por estes lados pratico yoga sabendo pouquíssimo das suas origens. Obrigada!
Beijos

Cleopatra disse...

Olá JOrge.
Venho desafiar-te para algo que vou lançar lá no Cleopatramoon.
Escrever sobre o Mar
Mas de uma forma diferente.
Como se tu ou eu, ou todos, ou o poeta.... fossemos o mar
Como se tu te sentisses o mar..
Está atento.
Um bj

ॐ Hanah ॐ disse...

Passei para desejar-te um bom fim de semana...

Anónimo disse...

Só para dizer...que estou aqui...não me esqueci de ti...espero tb não estar esquecida!... ;P

Beijinhos

maresia_mar disse...

Olá que post mais fabuloso. passei só para dizer olá, ando numa fase que não dá tempo para nada.. Bjhs e boa semana

Joyce Amaral disse...

Ai, adorei o texto !
parabéns ;)
vai ajudar muito no meu trabalho !
Beijos

BUGUEI disse...

Parabéeens e vaai ajdudar no trabalho aquii ^^