na nossa infância
os dias eram outroslongos dias de sol
vividos em sossego
no viver sempre aberto de nossa quietação
sem pressas e sem medos
sages de longa idade
sabíamos o tempo
vivíamos sem tempo
e a vida a rodear-nos
braços que nos amavamnão tínhamos memória
do que antes conhecíamos
cada dia era um dia
e não uma cadeia
a prender-nos as mãos
a horas já passadasa gestos copiados
vivíamos o dia
dormíamos a noite
e nem quem nos morria estava ausente
a morte era uma porta
por onde entravam todos que saíam
a morte não havia
morríamos ao dia
em cada noitee em cada dia
a vida renasciaMaria Beatriz (Évora, 1973)
1923 - 2006 - Em Memória de uma Senhora Extraordinária.
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